UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso Hospital Santo Antônio

📊 Estatística Básica para Médicos

População, Amostragem, Intervalo de Confiança e Testes de Hipóteses

6.0 População e Amostra em Pesquisa Médica

População e Amostra
Relação entre População e Amostra em Estudos Médicos

Na pesquisa médica, os termos população e amostra são fundamentais para definir o grupo de interesse e o subgrupo efetivamente estudado. A população refere-se ao conjunto total de indivíduos, objetos ou eventos que possuem características em comum e sobre os quais o pesquisador deseja obter informações.

🎯 Conceitos Fundamentais

População: Conjunto total de elementos sobre os quais queremos informações

Amostra: Subconjunto representativo da população

Inferência: Processo de generalizar achados da amostra para a população

Exemplo: Prevalência de Hipertensão em São Paulo

População: Todos os adultos com mais de 40 anos residentes no estado de São Paulo

Amostra: 2.000 adultos dessa faixa etária, selecionados de diferentes regiões do estado

Objetivo: Estimar a prevalência de hipertensão arterial na população total com base nos dados da amostra

É crucial que a amostra seja representativa da população. Uma amostra não representativa pode levar a conclusões enviesadas e, consequentemente, a decisões clínicas ou de saúde pública inadequadas. A representatividade garante que as características da amostra sejam proporcionais às da população de origem, como um bonsai que reflete a árvore original em miniatura.

7.0 Amostragem: Técnicas de Seleção em Estudos Médicos

Tipos de Amostragem
Principais Tipos de Amostragem em Pesquisa Médica

A amostragem é o conjunto de técnicas utilizadas para selecionar uma amostra representativa da população. A escolha da técnica de amostragem é vital para a validade externa de um estudo, ou seja, a capacidade de generalizar seus resultados para a população de interesse.

7.1 Amostragem Probabilística

Na amostragem probabilística, todos os elementos da população têm uma chance conhecida e não nula de serem selecionados para a amostra. Isso minimiza o viés de seleção e permite a aplicação de testes estatísticos para inferir sobre a população.

🎲 Amostragem Aleatória Simples (AAS)

Cada indivíduo da população tem a mesma probabilidade de ser selecionado. É como sortear nomes de uma lista completa de pacientes.

Exemplo: Para um estudo sobre eficácia de analgésico em hospital com 500 leitos, numerar todos os leitos e sortear 50 pacientes.

📊 Amostragem Sistemática

Seleciona-se o primeiro elemento aleatoriamente e os demais são escolhidos a intervalos fixos.

Exemplo: Em ambulatório de cardiologia com 300 pacientes/dia, entrevistar a cada 10º paciente para estudo sobre fatores de risco cardiovascular.

🎯 Amostragem Estratificada

A população é dividida em subgrupos homogêneos (estratos) e uma amostra aleatória é selecionada de cada estrato.

Exemplo: Estudo sobre adesão ao tratamento de diabetes, estratificando por faixa etária e sexo.

🏥 Amostragem por Conglomerados

A população é dividida em grupos heterogêneos naturalmente formados. Alguns conglomerados são selecionados aleatoriamente.

Exemplo: Para avaliar cobertura vacinal infantil, sortear algumas UBS e incluir todas as crianças cadastradas nelas.

7.2 Amostragem Não Probabilística

Na amostragem não probabilística, a seleção dos elementos não é aleatória. Isso pode introduzir viés e limitar a generalização dos resultados, mas é frequentemente utilizada em estudos exploratórios ou quando a amostragem probabilística é inviável.

🚶 Amostragem por Conveniência

Indivíduos são selecionados com base na facilidade de acesso do pesquisador.

🎯 Amostragem por Julgamento

O pesquisador seleciona indivíduos que acredita serem os mais representativos ou informativos.

📋 Amostragem por Cotas

A população é dividida em categorias e o pesquisador seleciona um número predefinido de cada cota.

8.0 Intervalo de Confiança em Medicina

Intervalo de Confiança
Conceitos de Acurácia, Precisão e Intervalo de Confiança

Ao interpretar os resultados de um estudo clínico, é fundamental compreender os conceitos de acurácia, precisão e intervalo de confiança (IC). Eles nos ajudam a avaliar a confiabilidade e a generalização das estimativas obtidas a partir de uma amostra.

8.1 Acurácia vs. Precisão

🎯 ACURÁCIA

Proximidade da medida em relação ao valor verdadeiro

Exemplo: Pressão real 140 mmHg, estudo estima 141 mmHg

🔄 PRECISÃO

Consistência ou reprodutibilidade das medidas

Exemplo: Glicosímetro sempre indica 120 mg/dL para a mesma amostra

⚠️ Tipos de Erros

Erro Aleatório: Afeta a precisão. É imprevisível e pode ser minimizado com aumento da amostra.

Erro Sistemático (Viés): Afeta a acurácia. É consistente e direcional, deve ser evitado no desenho do estudo.

8.2 Parâmetro, Estatística e Intervalo de Confiança

Parâmetro (μ): Valor verdadeiro na POPULAÇÃO

Estatística (x̄): Valor calculado na AMOSTRA

IC 95%: Faixa onde esperamos encontrar o parâmetro populacional

Interpretação do Intervalo de Confiança

Estudo: Eficácia de anti-hipertensivo

Resultado: Redução média de 10 mmHg (IC 95%: 8 a 12 mmHg)

Interpretação: A verdadeira redução na população está provavelmente entre 8 e 12 mmHg. Se o IC incluísse o zero, não poderíamos afirmar eficácia significativa.

9.0 Princípio da Hipótese Nula, Tipos de Erros e Valor P

Hipótese Nula e Valor P
Fluxograma de Decisão e Tipos de Erro em Testes de Hipóteses

O Princípio da Hipótese Nula é um conceito central na inferência estatística e na pesquisa clínica. Ele postula que não existe diferença ou associação entre os grupos ou variáveis estudadas. A pesquisa busca evidências para rejeitar essa hipótese nula.

🔬 Hipóteses em Pesquisa Clínica

Hipótese Nula (H₀): Não há efeito, diferença ou associação

Hipótese Alternativa (H₁): Há um efeito, diferença ou associação

Tipos de Erros em Testes de Hipóteses

❌ ERRO TIPO I (α)

Falso Positivo

Rejeitar H₀ quando ela é verdadeira

Probabilidade = Nível de significância (α = 0,05)

❌ ERRO TIPO II (β)

Falso Negativo

Aceitar H₀ quando ela é falsa

Poder estatístico = 1 - β

O Valor P

O valor p é uma medida da força da evidência contra a hipótese nula. Representa a probabilidade de observar os dados do estudo (ou mais extremos) se a hipótese nula fosse verdadeira.

Se p < α (0,05) → Rejeitamos H₀ (resultado significativo)

Se p ≥ α (0,05) → Não rejeitamos H₀ (resultado não significativo)

Exemplo: Eficácia de Nova Dieta

Estudo: Nova dieta para perda de peso em pacientes obesos

Resultado: Grupo da dieta perdeu 2 kg a mais que controle (p = 0,001)

Interpretação Estatística: Com α = 0,05, rejeitamos H₀ - a dieta é estatisticamente eficaz

Interpretação Clínica: Perda de 2 kg pode não ser clinicamente significativa, dependendo do contexto

⚠️ Importante Lembrar

• Significância estatística ≠ Significância clínica

• Valor p não indica magnitude do efeito

• Amostras grandes podem gerar p pequenos para efeitos irrelevantes

• Amostras pequenas podem não detectar efeitos importantes