UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso Hospital Santo Antônio

Estatística Médica: Representação Gráfica e Padrões de Distribuição

Residência Hospital Santo Antônio

Curso de Extensão em Estatística Básica

Agosto de 2025

Apresentação

Esta apostila foi desenvolvida especificamente para médicos participantes do curso de extensão em estatística básica, adaptando os conceitos fundamentais de representação gráfica de variáveis e padrões de distribuição para o contexto da prática médica e pesquisa clínica.

O conteúdo foi elaborado pensando em profissionais da saúde que precisam compreender e aplicar conceitos estatísticos em sua prática diária, seja na interpretação de estudos clínicos, análise de dados de pacientes ou desenvolvimento de pesquisas médicas.

Objetivos de aprendizagem:

Estrutura da Apostila

  1. Representação Gráfica de Variáveis Médicas
  2. Gráficos para Variáveis Qualitativas (Categóricas)
  3. Gráficos para Variáveis Quantitativas (Numéricas)
  4. Padrões de Distribuição das Variáveis em Medicina
  5. Casos Clínicos Práticos
  6. Aplicações na Medicina Brasileira

Cada seção foi desenvolvida para construir gradualmente seu conhecimento, partindo de conceitos básicos até chegar às aplicações práticas na medicina, com exemplos específicos do contexto brasileiro.

1. Representação Gráfica de Variáveis Médicas

Fundamentos da visualização de dados na prática médica e pesquisa clínica

Por que Gráficos são Importantes na Medicina?

Na prática médica moderna, a capacidade de visualizar e interpretar dados é fundamental para a tomada de decisões clínicas baseadas em evidências.

Quando analisamos características de pacientes, resultados de exames ou eficácia de tratamentos, a representação gráfica nos permite identificar padrões que podem não ser óbvios em tabelas numéricas.

  • 🏥Análise de características de pacientes
  • 📊Interpretação de resultados de exames
  • 💊Avaliação de eficácia de tratamentos
  • 🔬Desenvolvimento de pesquisas clínicas

Exemplo Prático

Ao analisar a distribuição de idades em um grupo de pacientes com diabetes tipo 2, um gráfico pode revelar se a maioria dos casos se concentra em determinada faixa etária.

Esta informação é crucial para:

  • Estratégias de prevenção
  • Programas de rastreamento
  • Alocação de recursos

Análise Univariada vs. Bivariada em Contexto Médico

Nesta apostila, focaremos na análise univariada, ou seja, o estudo de uma única variável por vez. Isso significa que examinaremos como características individuais dos pacientes se distribuem em uma população.

Exemplos de Análise Univariada em Medicina

  • Distribuição de idades em pacientes com hipertensão
  • Frequência de diferentes tipos sanguíneos
  • Distribuição de valores de pressão arterial sistólica
  • Tempo de internação hospitalar em pneumonia

Conceito Fundamental

A distribuição de valores de uma variável em uma população também é conhecida como distribuição de frequências ou de probabilidades.

Quanto mais frequente for um determinado valor na população, maior será a probabilidade de encontrá-lo em um novo paciente.

Escolha do Gráfico Adequado

O primeiro passo para criar uma representação gráfica adequada é identificar a natureza da variável que estamos analisando.

Variáveis Qualitativas (Categóricas)

Exemplos em Medicina:

  • Tipo sanguíneo (A, B, AB, O)
  • Sexo (masculino, feminino)
  • Grau de dor (leve, moderada, intensa)
  • Estadiamento de câncer (I, II, III, IV)
  • Resultado de exame (positivo, negativo)

Variáveis Quantitativas (Numéricas)

Exemplos em Medicina:

  • Idade dos pacientes
  • Peso corporal
  • Pressão arterial
  • Níveis de glicemia
  • Tempo de cirurgia
  • Número de consultas por mês

Regra Fundamental: A natureza da variável determina qual tipo de gráfico será mais apropriado e informativo.

Tipos Principais de Gráficos Estatísticos

Infográfico dos 4 principais tipos de gráficos estatísticos para medicina
Figura 1: Os quatro principais tipos de gráficos estatísticos utilizados na medicina, cada um adequado para diferentes tipos de variáveis.

2. Gráficos para Variáveis Qualitativas (Categóricas)

Representação visual de características categóricas em populações de pacientes

Gráfico de Setores (Pizza): Ideal para Proporções Médicas

O gráfico de setores é especialmente útil quando queremos mostrar a proporção de diferentes categorias em relação ao total, sendo muito comum em estudos epidemiológicos e análises de prevalência.

Quando usar em medicina:

  • Distribuição de tipos de câncer em hospital oncológico
  • Proporção de pacientes por faixa etária
  • Distribuição de causas de morte
  • Percentual de resposta a tratamentos

Características Importantes:

  • Soma de todos os setores = 100%
  • Mais eficaz com poucas categorias (≤ 6)
  • Categorias em porcentagens
  • Facilita comparação visual

Exemplo: Tipos Sanguíneos em Doadores

Tipo Sanguíneo Doadores Proporção
O 450 45%
A 350 35%
B 150 15%
AB 50 5%
Total 1.000 100%

Informação crucial para planejamento de estoques de sangue e estratégias de captação.

Gráficos de Barras e Colunas: Comparando Frequências Médicas

Os gráficos de barras (horizontais) e colunas (verticais) são ideais quando temos muitas categorias ou quando queremos comparar frequências absolutas entre diferentes grupos.

Quando usar em medicina:

  • Casos de doenças infecciosas por mês
  • Distribuição por especialidade médica
  • Frequência de sintomas em síndrome
  • Número de cirurgias por tipo

Vantagens:

  • Comparação fácil entre categorias
  • Não requerem proporções
  • Adequados para muitas categorias
  • Comprimento facilita identificação

Exemplo: Pacientes por Especialidade

Especialidade Nº Pacientes
Cardiologia245
Ortopedia198
Gastroenterologia167
Neurologia134
Pneumologia112
Endocrinologia89
Dermatologia76
Urologia65
Oftalmologia54

3. Gráficos para Variáveis Quantitativas (Numéricas)

Visualização de dados numéricos contínuos e discretos na medicina

Conceito Fundamental: Agrupamento em Classes

Quando trabalhamos com variáveis numéricas contínuas (como peso, altura, pressão arterial), não representamos cada valor individual na escala, pois isso resultaria em um gráfico muito disperso e pouco informativo.

Estratégia: Agrupamento em Faixas

Em vez de: 68,2 kg, 68,5 kg, 68,7 kg (valores individuais)

Usamos: 60-70 kg, 70-80 kg, 80-90 kg (faixas ou classes)

Vantagens do Agrupamento:

  • Reduz complexidade visual
  • Facilita identificação de padrões
  • Permite análise de tendências
  • Melhora interpretação clínica

Exemplo Médico

Pressão Arterial Sistólica:

Em vez de valores como 118, 119, 120, 121 mmHg, agrupamos em:

  • 110-120 mmHg (Normal)
  • 120-130 mmHg (Limítrofe)
  • 130-140 mmHg (Hipertensão Grau I)

Histograma: A Ferramenta Principal para Dados Médicos Contínuos

O histograma é o gráfico mais importante para variáveis numéricas contínuas em medicina, sendo fundamental para entender a distribuição de características dos pacientes.

Características do Histograma:

  • Colunas justapostas (grudadas) para transmitir continuidade
  • Eixo X: Classes da variável
  • Eixo Y: Frequência (número de observações)
  • Objetivo: Identificar padrões de distribuição

Aplicações Clínicas:

  • Distribuição de idades em doenças
  • Valores de exames laboratoriais
  • Tempo de internação
  • Dosagens de medicamentos

Exemplo: Diabetes Tipo 2 por Idade

Faixa Etária Nº Pacientes
30-40 anos45
40-50 anos78
50-60 anos142
60-70 anos156
70-80 anos79

Interpretação Clínica:

O histograma revela que a diabetes tipo 2 tem maior prevalência na faixa de 50-70 anos, informação importante para estratégias de rastreamento e prevenção.

Box Plot: Análise Rápida de Distribuições Médicas

O box plot é uma ferramenta poderosa que resume a distribuição de uma variável usando quartis e percentis, permitindo análise rápida de características da população.

Componentes do Box Plot:

  • Mediana (Q2): Valor que divide a população ao meio
  • Primeiro quartil (Q1): 25% dos valores estão abaixo
  • Terceiro quartil (Q3): 75% dos valores estão abaixo
  • Amplitude interquartílica: Diferença entre Q3 e Q1
  • Outliers: Valores extremos que merecem atenção especial
Exemplo de Box Plot
Figura 2: Estrutura de um box plot mostrando quartis, mediana e outliers

Exemplo Prático: Tempo de Internação em UTI

Um box plot mostrando tempo de internação em UTI pode revelar:

Vantagens do Box Plot em Medicina:

4. Padrões de Distribuição das Variáveis em Medicina

Compreendendo como as características dos pacientes se distribuem nas populações

Por que os Padrões de Distribuição são Cruciais na Medicina?

O estudo dos padrões de distribuição é um dos mais importantes em estatística médica, pois o comportamento de uma variável influencia diretamente a escolha de testes estatísticos, a interpretação de resultados e a tomada de decisões clínicas.

Aplicações Fundamentais:

  • 📏Estabelecer valores de referência adequados
  • 🔍Identificar pacientes com valores atípicos
  • 📊Escolher testes estatísticos apropriados
  • 📖Interpretar corretamente estudos clínicos

Exemplo Prático

Ao analisar níveis de colesterol em uma população:

  • Distribuição normal: Usar média ± 2DP para valores de referência
  • Distribuição assimétrica: Usar percentis para definir normalidade

A escolha incorreta pode levar a diagnósticos equivocados!

Distribuição Normal (Gaussiana): O Padrão Fundamental

Infográfico sobre distribuição normal
Figura 3: Distribuição normal mostrando a regra 68-95-99,7 e aplicações médicas

Características da Distribuição Normal:

  • Formato de sino simétrico
  • Maioria dos valores no centro (média)
  • Valores extremos são raros
  • Média = Mediana = Moda
  • Definida por média e desvio-padrão

Exemplos Médicos com Distribuição Normal:

  • Altura de adultos (mesmo sexo/idade)
  • Pressão arterial em populações saudáveis
  • Níveis de hemoglobina em indivíduos saudáveis
  • Capacidade pulmonar ajustada
  • Parâmetros bioquímicos normais

A Regra dos Desvios-Padrão: Ferramenta Diagnóstica

Na distribuição normal, os dados seguem uma regra matemática precisa que é extremamente útil na prática médica:

Regra 68-95-99,7:

Aplicação Prática: Pressão Arterial Sistólica em Adultos Jovens

Dados:

  • Média (μ) = 120 mmHg
  • Desvio-padrão (σ) = 10 mmHg

Interpretação:

  • 68% têm PAS entre 110-130 mmHg
  • 95% têm PAS entre 100-140 mmHg
  • 99,7% têm PAS entre 90-150 mmHg

Implicação clínica: Um paciente com PAS de 150 mmHg está no percentil 97,5%, sugerindo possível hipertensão que merece investigação.

Valores de Referência e Intervalos de Normalidade

A distribuição normal é fundamental para estabelecer valores de referência laboratoriais e clínicos.

Intervalo de Referência Típico

Fórmula: Média ± 2 desvios-padrão

Cobertura: 95% da população saudável

Interpretação: 2,5% abaixo e 2,5% acima são considerados alterados

Exemplo: Hemoglobina em Mulheres

  • Média: 13,5 g/dL
  • Desvio-padrão: 1,0 g/dL
  • Intervalo de referência: 11,5 - 15,5 g/dL

Interpretação clínica:

  • < 11,5 g/dL: Possível anemia (2,5%)
  • > 15,5 g/dL: Possível policitemia (2,5%)
Exame Média Desvio-Padrão Intervalo de Referência
Glicemia de jejum 92 mg/dL 8 mg/dL 76 - 108 mg/dL
Colesterol total 180 mg/dL 30 mg/dL 120 - 240 mg/dL
Pressão sistólica 120 mmHg 10 mmHg 100 - 140 mmHg

Distribuições Assimétricas: Quando a Normalidade Não se Aplica

Infográfico sobre distribuições assimétricas
Figura 4: Distribuições assimétricas positiva e negativa com exemplos médicos

Nem todas as variáveis médicas seguem distribuição normal. Algumas apresentam distribuições assimétricas, que são igualmente importantes de reconhecer.

Assimetria Positiva (Cauda à Direita)

Características:

  • Maioria dos valores em valores baixos
  • Poucos valores muito altos (cauda longa à direita)
  • Média > Mediana > Moda

Exemplos Médicos Comuns:

  • 🏥Tempo de internação: Maioria fica poucos dias, alguns muito tempo
  • 🧪Enzimas hepáticas: Valores normais baixos, podem elevar drasticamente
  • ⏱️Tempo de sobrevida: Alguns morrem rapidamente, outros vivem muito
  • 💊Concentração de medicamentos: Picos altos seguidos de declínio

Caso Clínico: Tempo de Internação em UTI

  • Moda: 2 dias (valor mais frequente)
  • Mediana: 5 dias (50% dos pacientes)
  • Média: 8 dias (influenciada por casos prolongados)

Implicação prática: A mediana (5 dias) é mais representativa que a média (8 dias) para planejamento de leitos.

Atenção: Em distribuições assimétricas positivas, a média superestima o valor típico devido aos casos extremos.

Assimetria Negativa (Cauda à Esquerda)

Características:

  • Maioria dos valores em valores altos
  • Poucos valores muito baixos (cauda longa à esquerda)
  • Média < Mediana < Moda

Exemplos Médicos:

  • 👴Idade ao óbito natural: Maioria morre em idades avançadas
  • 🤱Tempo de gestação: Maioria nasce próximo ao termo
  • 😊Escores de qualidade de vida: Maioria tem escores altos
  • 🫁Saturação de O₂: Maioria próxima a 100%

Caso Clínico: Idade Gestacional ao Nascimento

  • Moda: 40 semanas (valor mais frequente)
  • Mediana: 39 semanas
  • Média: 38 semanas (influenciada por prematuros)

Implicação clínica: É esperado que a maioria dos nascimentos ocorra próximo ao termo, com poucos casos de prematuridade extrema.

Interpretação: Em distribuições assimétricas negativas, a média subestima o valor típico devido aos casos extremos baixos.

5. Casos Clínicos Práticos

Aplicação dos conceitos em situações reais da prática médica

Caso Clínico 1: Análise de Glicemia de Jejum

Situação

Laboratório analisou glicemia de jejum em 1.000 adultos aparentemente saudáveis para estabelecer valores de referência locais.

Resultados Obtidos:

  • Distribuição aproximadamente normal
  • Média: 92 mg/dL
  • Desvio-padrão: 8 mg/dL
  • Mediana: 91 mg/dL
  • Moda: 90 mg/dL

Aplicação da Regra 68-95-99,7:

  • 68% entre 84-100 mg/dL
  • 95% entre 76-108 mg/dL
  • 99,7% entre 68-116 mg/dL

Interpretação Clínica:

Valores de Referência: 76-108 mg/dL (95% da população)

Critérios de Investigação:

  • 108-125 mg/dL: Glicemia de jejum alterada
  • ≥126 mg/dL: Critério para diabetes
  • >116 mg/dL (>3DP): Investigação obrigatória

Aplicação Prática:

  • Estabelecimento de valores de referência
  • Critérios de rastreamento para diabetes
  • Definição de pontos de corte para investigação

Caso Clínico 2: Tempo de Resposta a Antibiótico

Situação

Estudo prospectivo sobre tempo para melhora de sintomas em 200 pacientes com pneumonia bacteriana tratados com novo antibiótico.

Resultados Obtidos:

  • Distribuição assimétrica positiva
  • Mediana: 3 dias
  • Média: 4,5 dias
  • Moda: 2 dias
  • P25: 2 dias
  • P75: 5 dias
  • P90: 8 dias
  • Alguns pacientes levaram >14 dias

Interpretação Clínica:

Padrão de Resposta:

  • 50% melhoram em até 3 dias
  • 75% melhoram em até 5 dias
  • 90% melhoram em até 8 dias

Por que a mediana é mais útil: A média (4,5 dias) é inflacionada pelos casos que demoraram muito para responder.

Aplicação Clínica:

  • Expectativa realista para pacientes
  • Critério para mudança de antibiótico (>7 dias)
  • Identificação de possíveis complicações

Lição Importante: Em distribuições assimétricas, use sempre a mediana para representar o "tempo típico" de resposta, não a média.

Caso Clínico 3: Idade ao Diagnóstico de Câncer de Mama

Situação

Análise retrospectiva de 500 casos de câncer de mama diagnosticados em hospital oncológico durante 5 anos, para orientar estratégias de rastreamento.

Resultados Obtidos:

  • Distribuição assimétrica negativa
  • Moda: 65 anos (pico da distribuição)
  • Mediana: 58 anos
  • Média: 55 anos
  • P10: 35 anos
  • P25: 48 anos
  • P75: 68 anos
  • P90: 75 anos

Interpretação Epidemiológica:

Padrão Etário:

  • Maioria dos casos após 50 anos
  • Pico de incidência aos 65 anos
  • 10% dos casos antes dos 35 anos
  • 25% dos casos antes dos 48 anos

Implicações para Rastreamento:

  • Rastreamento populacional: Foco em 50-70 anos
  • Casos jovens: Investigar história familiar
  • Estratégia diferenciada: Para mulheres <40 anos
  • Recursos: Concentrar onde há mais casos

Decisão Clínica Baseada nos Dados

O hospital decidiu intensificar o rastreamento na faixa de 50-70 anos (onde estão 60% dos casos) e criar protocolo especial para investigação de casos suspeitos em mulheres jovens com história familiar.

6. Aplicações na Medicina Brasileira

Exemplos específicos do contexto nacional e do Sistema Único de Saúde

Estudos Epidemiológicos Nacionais

Os padrões de distribuição são fundamentais em grandes estudos brasileiros que orientam políticas de saúde pública.

ELSA-Brasil

(Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto)

  • Análise de distribuições de fatores de risco cardiovascular
  • Identificação de padrões regionais
  • Valores de referência para população brasileira
  • Comparação entre diferentes regiões do país

Exemplo de Aplicação:

Distribuição de pressão arterial mostrou diferenças significativas entre regiões, orientando estratégias regionalizadas de prevenção da hipertensão.

PNS (Pesquisa Nacional de Saúde)

  • Distribuição de doenças crônicas por região
  • Padrões de acesso aos serviços de saúde
  • Análise de desigualdades em saúde
  • Cobertura de programas preventivos

Impacto Prático:

Dados da PNS sobre distribuição de diabetes orientaram a expansão do programa de medicamentos gratuitos e a localização de centros especializados.

Importância para o SUS

Estes estudos fornecem dados essenciais para:

Vigilância em Saúde Pública

A representação gráfica e análise de distribuições são essenciais para o monitoramento epidemiológico no Brasil.

Monitoramento de Surtos

  • Distribuição temporal: Identificação de padrões sazonais
  • Distribuição geográfica: Mapeamento de áreas de risco
  • Distribuição por idade: Grupos mais vulneráveis
  • Curvas epidêmicas: Predição de tendências

Exemplo: COVID-19

Análise de distribuições permitiu:

  • Identificar grupos de risco
  • Prever picos de demanda hospitalar
  • Orientar estratégias de vacinação

Avaliação de Programas

  • Cobertura vacinal: Distribuição por região e faixa etária
  • Adesão a tratamentos: Padrões de abandono
  • Efetividade de intervenções: Antes e depois
  • Equidade em saúde: Distribuição de acesso

Programa Nacional de Imunizações

Análise de distribuições de cobertura vacinal por município permite:

  • Identificar áreas de baixa cobertura
  • Direcionar campanhas específicas
  • Monitorar efetividade das ações

Ferramentas Práticas para o Médico

Checklist para Análise de Distribuições

Antes de analisar dados:

  1. Identifique o tipo de variável (qualitativa/quantitativa)
  2. Escolha o gráfico apropriado
  3. Examine o padrão de distribuição
  4. Identifique presença de outliers
  5. Escolha medidas descritivas adequadas

Para distribuições normais:

  • Use média ± desvio-padrão
  • Aplique regra 68-95-99,7
  • Use testes paramétricos

Para distribuições assimétricas:

  • Use mediana e percentis
  • Considere transformações dos dados
  • Use testes não-paramétricos

Interpretação de Valores Laboratoriais

Estratégia prática:

  1. Verifique se o exame segue distribuição normal
  2. Para exames normais: use intervalos baseados em ±2DP
  3. Para exames assimétricos: use percentis
  4. Considere fatores como idade, sexo e etnia
  5. Interprete no contexto clínico do paciente

Comunicação com Pacientes

Como explicar resultados estatísticos de forma clara e compreensível.

Para Resultados Normais:

✅ Diga:

  • "Seu exame está dentro da faixa esperada para pessoas da sua idade"
  • "O resultado está no intervalo considerado normal"
  • "95% das pessoas saudáveis têm valores nesta faixa"

❌ Evite:

  • Termos como "normal" vs "anormal"
  • Linguagem muito técnica
  • Comparações com outras pessoas

Para Resultados Alterados:

Explique o significado estatístico:

  • "Apenas 5% das pessoas têm valores como o seu"
  • "Seu resultado está fora da faixa de referência"
  • "Isso pode indicar... mas precisamos de mais exames"

Contextualize clinicamente:

  • Relacione com sintomas do paciente
  • Explique próximos passos
  • Tranquilize quando apropriado
  • Seja honesto sobre incertezas

Exemplo de Comunicação Eficaz

Situação: Paciente com colesterol de 250 mg/dL (normal até 200 mg/dL)

Explicação: "Seu colesterol está em 250, enquanto consideramos ideal valores até 200. Isso significa que está um pouco elevado e precisamos trabalhar juntos para baixá-lo, seja com mudanças na alimentação, exercícios ou, se necessário, medicação. Vamos conversar sobre as opções."

Conclusões e Perspectivas Futuras

Importância da Estatística Descritiva

A compreensão adequada de representação gráfica e padrões de distribuição é fundamental para:

  • 📊Interpretação correta de dados clínicos
  • 🎯Tomada de decisões baseadas em evidências
  • 💬Comunicação eficaz com pacientes e colegas
  • 🔬Desenvolvimento de pesquisas de qualidade

Tendências na Medicina Digital

Com o avanço da medicina digital e big data:

  • Análise de grandes volumes de dados
  • Identificação de padrões em tempo real
  • Medicina personalizada baseada em distribuições individuais
  • Inteligência artificial para reconhecimento de padrões

Recomendações para Educação Continuada

Para médicos em formação:

  • Pratique interpretação de gráficos regularmente
  • Questione sempre o tipo de distribuição
  • Desenvolva senso crítico para análises

Para médicos experientes:

  • Mantenha-se atualizado com novas ferramentas
  • Participe de cursos de epidemiologia
  • Colabore com estatísticos em pesquisas

Referências e Leituras Recomendadas

Bibliografia Básica

  1. Vieira, S. Introdução à Bioestatística. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
  2. Medronho, R.A. et al. Epidemiologia. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
  3. Hulley, S.B. et al. Delineando a Pesquisa Clínica. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

Bibliografia Complementar

  1. Pereira, M.G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
  2. Jekel, J.F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Recursos Online

  • Portal da Evidência - Ministério da Saúde
  • DATASUS - Informações de Saúde
  • Biblioteca Virtual em Saúde
  • ELSA-Brasil - Dados do estudo longitudinal

Ferramentas Estatísticas

  • R - Software livre para análise estatística
  • SPSS - Análise estatística para ciências da saúde
  • Excel - Análises básicas e gráficos
  • GraphPad Prism - Estatística para pesquisa biomédica

Anexos

Anexo A: Exemplo de Código R

# Exemplo 1: Histograma de idades idades <- c(25, 30, 35, 40, 45, 50, 55, 60, 65, 70) hist(idades, main="Distribuição de Idades", xlab="Idade (anos)", ylab="Frequência", col="lightblue") # Exemplo 2: Box plot de pressão arterial pressao <- c(110, 115, 120, 125, 130, 135, 140, 145, 150) boxplot(pressao, main="Pressão Arterial Sistólica", ylab="mmHg", col="lightgreen") # Exemplo 3: Gráfico de barras para tipos sanguíneos tipos <- c("A", "B", "AB", "O") frequencias <- c(35, 15, 5, 45) barplot(frequencias, names.arg=tipos, main="Distribuição de Tipos Sanguíneos", col=c("red", "blue", "purple", "orange"))

Anexo B: Glossário de Termos

Termo Definição
Assimetria Medida de desvio da simetria em uma distribuição
Box plot Gráfico que mostra quartis e outliers
Distribuição normal Distribuição simétrica em forma de sino
Histograma Gráfico de barras para variáveis contínuas
Mediana Valor que divide a distribuição ao meio
Outlier Valor extremo que se afasta do padrão geral
Percentil Valor abaixo do qual está determinada porcentagem dos dados
Quartil Valores que dividem a distribuição em quatro partes iguais

Obrigado!

Esperamos que esta apostila contribua para sua formação em estatística médica